segunda-feira

Arrepio

Quando a vida estiver rasteira
E for impossível sorrir
Encontre um poema e leia
 (Em voz alta ele vai ouvir)

Amor e dor - liberte-se deste dilema
A poesia é irreprimível
Imprudente, improvável

Encontre a palavra invisível
Silenciosa, impronunciável
Suspire, apenas, e arrepie seu poema

sábado

Jequitinhonha*

Jequitinhonha
Braço do mar
Leva esse canto prá navegar
traz do garimpo
pedra que brilha mais que a luz do luar

Jequitinhonha
jequitibarro
mete essa unha, tira da terra
vida talhada com as mãos

Já te quis, já te quis, já te quis tanto
já te fiz, já te fiz, já te fiz sonho

te cantei, te cantei, te cantei pranto
como a água da chuva que inunda esse chão


*Música de Lery Faria e Paulinho Assunpção, gravada por Paulinho Pedra Azul

Uma honra

Tertúlia Pão de QueijoHoje estreio na Tertúlia Pão de Queijo.
Entra lá: http://tertuliapaodequeijo.blogspot.com/
Obrigado a todos pela força
abs
marquim

sexta-feira

Lugar Algum


Viveu meio século só de ida
Num relance, sentiu o tempo
Chicotear a carne curtida

Agora é vida desconstruída
Sal de lágrima, som de lamúria
Em ruga laceradamente doída

Urrou a quase perder fôlego
Encarou a feroz vera refletida
E levantou-se de novo

Num átimo de lucidez bizarra
Riu da imagem que do tempo zombara
E viu porque todo espelho é lugar algum

terça-feira

Laís

O peito palpita quando vejo
Os olhos desta moça bonita
Viro pedra, azulejo

É minha vida, meu espelho
Deriva belo a tudo
Azulece minha escrita
Todo o mundo levita

sábado

Dezembros Relembrados


Um cheiro, uma lembrança nos ares
Comida de avó, alegria de primos
Namoros de inocentes olhares
Plenitude de mundos meninos

Correria e muita brincadeira
Fazenda com verde em volta
Desventura aventureira
Tios fazendo a escolta

Suor e frescor em sombras ciliares
Nadar no remanso que o rio beira
Perigo e frio no fim das tardes
Noites pulando fogueira

Calor de colo, suave sono
Férias para eternas idades
Mais que memória, sonho
Dezembros em Raul Soares

quinta-feira

Na vazia página

Os pés não a me trazem
Os olhos só fazem escondê-la
Mas, a memória do perfume
Embeleza a sala vazia

(A página já inspira saudade)

Quero tê-la agora, aqui!

Viro e reviro as linhas
Empurro pracá-pralá as palavras
Chego bem perto, muito perto

Cadê? Cadê?

Êta poesia ciumenta!

terça-feira

No vazio bar



limpou-se com o guardanapo já de lamúrias rabiscado
passou a mão na última lágrima do verso sofrido
arranhou a garganta esvaziando o copo num trago
tão ardente quanto a rima chorosa do bolero antigo


jurou nunca mais
porque não há abrigo
para o amor, para si, para a poesia


voltar jamais
porque não há endereço
- A poesia mora para além das dores da alma

domingo

Destino em Desalinho

Mãos abertas libertam
Desalinham as palmas
Desamarram as almas

Mãos abertas alertam
Cruzam insólitos caminhos
Reinventam destinos

Mãos abertas batem asas

sexta-feira

Reverência



Vez por ano volto ao colo
Espero a chuva, recolho gravetos no barro
E levo para o mineiro ninho

Vales que hoje vejo do alto
Antes eram montes gigantes,
limítrofes muralhas de um acanhado mundinho

Mas, não há como tomar água da minha mina sem reverência

Por que me abandonei alma tão vazia?
Não. Não sepultarei este tempo.

Estive distante do poema, mas não da poesia.
Ausente do verso, mas não do verbo.

Não. Não estou na idade de me velar.

Amores Voltam


amores rápidos, longos
amores trágicos, tontos

convulsões carnais de infinita tesão
suadas paixões que se queimaram num verão

cicatriz,
é dela que se alimenta a saudade de ser feliz

marcas ficam, amores voltam