domingo

PALAVRA

O SILÊNCIO GRITA DENTRO DE MIM
COMO UMA VOZ INAUDÍVEL AO MUNDO
TÃO POUCO AOS CÉUS OU INFERNOS

O SILÊNCIO DAS HORAS INQUIETAS
QUANDO O TEMPO DESPERTA FAMINTO
E VOLTA A DEVORAR MINHA ALMA

O SILÊNCIO DO AMOR PERDIDO
SE CONTORCENDO COTIDIANAMENTE
ATÉ FAZER SANGRAR  MEU VENTRE

POR ISSO ESCREVO



JUAREZ GOMES DE SÁ
DEZEMBRO DE 2011

quarta-feira

despoema de amor

para Marcos Pizano




simulo o poema
tal quem
com cerradas pálpebras
simula um voo

o que chamam “poema”
é de papel

o que tua chamas “poema”
me despoeta

: é alarido
vento
redemunho um
quarto de lua um
quarto de núpcias sem
telhado uma
cama em febre aberta
ao céu um
quarto de hóspedes
com paredes de vidro
plantado insone no jardim noturno
sob um céu interno
estreladíssimo


wilson torres nanini
botelhos, sul de minas

sábado

Ressecar jamais

uvas cinzas de tão maduras
em seus olhos
ramas verdes de fechada trama

nunca ressecar
em seu perfume de ausências
sempre lagrimar-se

em sua boca um beijo arde
sol água terra
sangue em seu leito
excedendo à taça em oblação

corporifica para enfim guardar-se
plena de sua beleza
em um gole de vinho

- você adegada no peito

sexta-feira

Estás demais!

não mais – o tempo diz
eu quis me iludir
teus sais roem meus ais
o afã – nem lembro - enfim se apaga

estás e vais

sem alento esvai-me tu
nem mesmo em dejavu
não negue que virá
num breve que o futuro tem

estás jamais

luas e sois
sempre vão e vêm
as nuvens fecham
elas me entendem

quando o amor vem
não convém
brincar e nem
caçoar de quem quer mais

e é sempre a mesma história
matar o amor na memória
ou fez ou não faz mais
pra não sumires digo agora

- estás demais!

“Bessame mucho”

olho a contornear-te
arco de anca a curvejar
em deliciado bolero a pedir um beijo

arte da dança delícias
toques rosados pelos roçados
espasmos tremores de dorso

delicados cabelos entre dedos
sem medos entre pernas 
sem perdas
ocaso de olhos
de lábios
delírios