sábado

Lua diurna

no incrível céu de Barretos.

quando o tempo fecha em teus olhos
                          é assim
     espantosa lua diurna
sem nuvens de moldura

e se isso for se
se estiver por um fio
(sombras que caem
como o não
         com seu frio)

o tempo a frente já não ajuda
- nunca nos resgata
       adiante
como antes
sós

dragões borboletas
e eu nem o crio
isso de não sei
       de não mais
       de não saber dizer o que o coração sente

a cidade sequer cheira
nem ecos de passos
de pássaros
- a morte sequer estreita

(ou a mim
como ao fim de tudo
       há o fim de tudo)

isso não se chama se
                        ou sim
           o não for o fim
de tudo em que cri
       o não por um fim

o sol por um triz
a lua que se diz gris
- e se eu disser se
  diria também fim?

você dorme
não sei
não há mais
- para mim -

de tudo 
     um fim

  

segunda-feira

Mar revolto



o poeta excede para dentro
nos limites da métrica versa tão solto que a dissolve
 
mas há
        sim
        uma pátria como se não fosse


esmaga
esgana
expulsa
 

o homem
mar revolto em gota d’água
 
  Este poema e a peça da foto também estão na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Fazem parte da bela exposição "Viniciando", da ceramista Ma Ferreira, em homenagem ao centenário de nascimento de Vinicius de Moraes. Ficam lá até dia 30/08, sexta-feira.  

quinta-feira

Fado d'olhos

espírito livre

               e passional coração

buscam para não encontrar

              amor na paixão

sabendo-se sangrar

lagrim’ágoas
 
Para Má Ferreira, em obra dedicada a Vinicius de Moraes, exposta na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, neste mês de Agosto
 
 

sábado

Chuva


vais distraidamente
nesta tua capela absoluta
      (disso nada se desfaz
                nada se desata)
vais no teu tempo que se rebela
já não escuta

- e a tua rosa papel machê?

respondas agora
digas ao papel pardo
(um nada que fica e que tudo arde)

por que?
por que tu te vais na chuva?

- e eu que nem teu poema pude dizer!

caprichosa em bela mascara
                             respondas
                                 é tarde?

não sei se responderias
                                 sim
é tarde para esta gota precipitada a borrar a palavra - ainda não poesia

mesmo sem saber
dei a ti (a mim)
cada colorida pétala
(de textura dolorosa!)

                                 suspiro ao vento vácuo
                                 tua pele
                                 tua fala 
                                 teu buquê
como noite que desespera a entrega do sol

é delicado ver-te rosa
   mas és filme árduo
   de lamentos longos e sem lágrima
és minha prosa macerada
           de jardineiro morto

é delicado ver-te flor
   mas és tristeza profunda
   de uma fé que emburreceu

- pra que, meu amor?

(por favor
não te desfaças na chuva!)


   

quinta-feira

Sô Tonim

vejo você sempre 
        no sofá da ausência 
        nas irmãs mansidão 
        nos sorrisos netos 

meiguice 
atitude 
elegância 

tudo refletido neste espelho tempo 
                                      seu rosto 

     disse em nosso leito de morte 
da sua voz serena 
seus olhares azuis 
sua aveludada mão 
     da honra de ser seu filho 

meu mundo
     seu colo 


Publicado na Tertúlia Pão de Queijo



sexta-feira

Desejo de amor


traz o coração
                pote de felicidade
a adiar a última paixão

para
       por única vez na vida
       segundos que sejam
fazer amar
       e ser amado
                 o suficiente
                              para

                              desejar um novo amor


Para Má Ferreira, em obra dedicada a Vinicius de Moraes, exposta na Livraria Cultura neste mês de Agosto/13